quinta-feira, 5 de agosto de 2010

A Praia, Hoje.

A espuma fresca
seca a boca
num murmúrio inaudível.

Os corpos, em paz,
expostos ao Sol
com a sua textura granulada
de veludo.

As cores do arco-íris.

Ou só o verde-acastanhado
do mar.

A ilusão de não estarem
nunca sós,
envolve de tristeza
toda a praia.

E quando o vento parar de soprar
e a água na baixa-mar
se espreguiçar na areia húmida

o silêncio confundir-se-á
com as vozes roucas
e cegas
dos versos de Camões...

" O céu, a terra, o vento sossegado...
As ondas, que se estendem pela areia...
Os peixes, que no mar o sono enfreia...
O nocturno silêncio repousado...
O pescador Aónio, que, deitado
Onde co´o vento a água se meneia,
Chorando, o nome amado em vão nomeia,
Que não pode ser mais que nomeado:
- Ondas - dizia - antes que Amor me mate,
Tornai-me a minha Ninfa, que tão cedo
Me fizestes à morte estar sujeita.
Ninguém lhe fala; o mar de longe bate;
Move-se brandamente o arvoredo;
Leva-lhe o vento a voz, que ao vento deita. "

Soneto de Camões, 104., Lírica, IIIºVolume das Obras Completas, Círculo de Leitores, 4ª Edição, 1981, p.202.

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