domingo, 31 de outubro de 2010

Plágio Descarado De Ruy Belo, O Grande Poeta.

O mar rebenta,
cor rubro-saturno,
a tormenta cerra o céu,
um sol branco sem aves,
a tua imagem
com algas e corais,
o meu amor.

A solidão,
névoa nocturna,
mensageira da chuva,
da tormenta,
prelúdio e fuga.

Melancolia,
olhar imerso
na tristeza.

Tu foste
um discreto gesto
na eternidade
e indefeso a ti me confiei.

Louco amor,
furor,
ATRAVÉS DA CHUVA E DA NÉVOA,
ó meu amor
o teu olhar,
o meu olhar
o teu amor.

( Cut-up aleatório de versos da obra O Tempo Das Suaves Raparigas E Outros Poemas De Amor, de Ruy Belo, Assírio e Alvim, Lisboa, Julho de 2010. Impossível a identificação das páginas. Será que o autor me perdoaria? )

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Em Memória de José António Morais, Meu Querido Amigo.

Não foi aqui que te encontrei,
nestes campos de Alijó,
pedregosos e em declive,
revendo silvas nos bolsos,
sonhando estoiros enormes,
com simples fósforos.

Nem no areal da ilha,
ao nascer do dia,
cheios de cansaço e sede.

Ou em alguma roça,
sozinho,
vestido o capim
como um agricultor.

A caminho de Murça
ao cair da manhã,
por estes campos agrestes
de oliveiras
e castanheiros,
não foi.

Entre vinhas perdidas,
vinhas encontradas,
entre os seixos
e os granitos,
não.

O teu sorriso matemático
de juventude,
não foi aqui que encontrei,
foi por outro acaso,
foi noutro Mundo.

E recordo em ti o acne,
a marcar-te o rosto
para sempre.

Perdido entre os muros
ficou o teu Tempo
muitos anos,
sem eu te ver.

E tu, sorrindo, amavas
a Terra, as flores, tantas, os filhos, lindos,
a mulher.

Todos eles, afinal,
bailavam no teu sorriso de criança,
o mesmo sorriso com que foste.

Sabes, querido amigo,
estou aqui,
sou eu.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Iniciação.

Repeti os gestos do poeta
com a mesma precisão dum sonhador,

porque teria de olhar para o céu,
de olhar as nuvens,

de trazer o vento
e o voo das aves
para os versos do poema.

A dor de quem sofre?
As injustiças muitas?

Camões passando fome na gruta de Macau?

Eu queria escrever
sobre o vazio das mãos abertas,
o olhar absorto,
o corpo imóvel.

Os gestos dum académico,
nunca.

domingo, 17 de outubro de 2010

Arruda-dos-Vinhos.

São alfaias e tractores
estacionados nos laranjais.

O declive sumptuoso
de ter.

Vinhas plantadas
em redor da grande casa,
ao Sol de Outubro.

As estradas serpenteando
o coração de Arruda.

O sabor do azeite quente
e do alho.

Na soalheira cidade
interior.

sábado, 9 de outubro de 2010

O Turcifal.

Há mais do que um desvio para o Turcifal,
na estrada
que vai para Torres Vedras.

Tenho sorte por ter escolhido
este caminho rodeado de árvores,
ao Sol de Agosto.

Junto à igreja,
( mas que monumentalidade,
era preciso tanto?... )
há um restaurante
e são horas de almoçar.

Vim ao Turcifal
para almoçar
e depois seguir viagem
de regresso a casa.

O dono do restaurante apresentou-me
a um rico da terra
 e deu-me o calendário das festas.

Mas não pude continuar a ouvi-lo,
queria chegar a casa depressa.

Há horas que eu andava no carro
dum lado para o outro, e agora
queria voltar para Lisboa.

Fui só ao Turcifal para almoçar,
mais nada.

Oração.

Precisava de retomar
a leitura de grandes
romances clássicos,

as luzes acesas pela noite fora,

contra a cegueira destes tempos
de crise e abandono.

Uma solidão repleta
de figurinhas animadas.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O Aluno Especial.

Olha só o que o puto quer,
pá,

Static-x,
ahahah.

A Poesia.

Nasceram do nada
estas palavras.

Soltaram-se à procura de uma voz,
uma outra voz viva.

Ou só do seu sentido.

Como se fossem mudas.

Uma voz doce,
virada para si,
quase inaudível.

São estas palavras que dão um nome
à minha serenidade.

Digo-as baixinho
e depois sei estar.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Interlúdio.

Um avião faz-se aos céus,
desviando a rota para Sul.

O aeroporto da Portela é aqui muito perto.

Estou à saída da A1.

Tudo o mais
é Europa,
tudo o mais é o Mundo,
é diferente.

O avião?

Já não o vejo...

A Lagartixa e o Jacaré.

Um erro brutal,
o devaneio.
A distracção é doentia.

O tempo que se dedica
a cada pormenor.
A pequena minúcia,
a minudência,
é, é...

Tudo o mais é imaginação,
é desvario.

É um desvio da razão,
um erro de consciência.

Só os poetas,
só Fernando Pessoa...

Frustração.

Foi frustrante o resto do tempo que passámos ao almoço.
Sentados no murinho, a pessoa do meio não se calou mais
e estava aborrecida, pelo menos pareceu.

Um avião fazia-se ao ar, desviando a rota para Sul.
A Portela é aqui tão perto, estamos à saída da auto-estrada A1,
tudo o mais é Europa, tudo o mais é o Mundo, é diferente.

Nós não, nós não queríamos ver, estávamos ali de castigo,
estávamos só a olhar. Depois o campo parecia um descampado,
via-se o lixo das construções. E ao longe, empertigados na ravina,
uns prediozitos pareciam querer ser gente e ficar a olhar,
para nós, nós ali os três.