terça-feira, 29 de novembro de 2011

As palavras dizem adeus, o sonho esquece o silêncio e é noite, depois.

Estas palavras dizem em silêncio
a mudez do azul,
o brilho que ofusca
a gabardina beje,
o cabelo extenso
e forte,
os ombros fracos e estreitos,
a linha dos lábios finos na tessitura
rugosa do vento,
que sopra seco
e esconde o tempo
e devolve o rosto,
de um abraço apertado,

os olhos irrequietos, quase cerrados
de prazer,
um prazer secreto,
ofegante,
depois extenuado,
disperso
no sono
cinzento do amor
milhares de vezes
saturado,
preso outras tantas vezes
num abraço repetido,
mas satisfeito.

As sandálias gregas, como novas,
feitas de pele e ornamentadas
de pedras lazuli e grená,
em fio de prata,
cobiçadas na escadaria arenosa
pelos mais abençoados,
absurdos
olhares,
abertos uma vez mais
pelo vento e dispersos,
adormecidos por um novo
e sonhado prazer,

enquanto te afastas,
nitidamente
irreconhecível.

A erosão não gasta esse sonho,
condenado, no entanto,
ao mais profundo,
secreto, adeus.

E é noite tão cedo,
o vento vai em rodopio, sem rumo,
e o sonho esconde
o dia muito azul,
que nasce depois
e tu adoras,
como se fosse
único.