quinta-feira, 23 de maio de 2013

domingo, 19 de maio de 2013

O Famoso Caderno. Segredo.

Vem ter comigo,
enquanto ainda chove,
numa destas tardes
de fim da Primavera.

Quero mostrar-te
o meu desenho novo,
feito de azul e água,
no caderno que  me deste.

Porque no céu,
ao meio da tarde,
se estendem
nuvens brancas,
vagarosamente.

Vem ouvir a música
do disco que comprei
e te vou oferecer depois.

Este mês que passou,
tu não vieste ver
os meus olhos
perdidos por ti.

Talvez dentro de ti
se tenha calado,
para sempre,
a minha voz...

Traz-me o mar
da tua vida,
atira-mo em surdina
contra a minha face.

Talvez eu nada
mais mereça.

Mas vem.

Eu preparo o chá vermelho
que tu gostas...

quarta-feira, 15 de maio de 2013

O Famoso Caderno. O teu Rosto.

Se eu pudesse descrever uma imagem
na minha poesia, seria a do teu rosto,
o teu rosto a silenciar os segredos da tua vida.

A outra imagem que eu descrevesse, seria
a do mar revolto, onde o teu rosto descansaria
e em que os teus olhos vivos pudessem navegar.

Finalmente, o teu corpo seria o fim sem fim
dessa poesia e tu inteira e liberta triunfarias
sobre as vagas e a espuma branca da minha mão.

Pedro Chagas Freitas. Amor.

Queria dizer-te. Queria.
Queria olhar-te. Olhar-te com força – como se olha com força? E dizer-te.
Dizer-te que sim. Sempre sim. Desde o primeiro não que sim.
Dizer-te que quero. Olhar-te com força. Dizer-te. Queria.
Dizer-te. Negar o não. Negar o não que desde sempre – onde começou o sempre? – foi sim.
Dizer-te menti. Dizer-te fugi. Dizer-te parti.
Queria. Dizer-te aqui. Dizer-te agora. Dizer-te já.
Queria. Sempre queria.
Queria, amor. Amor.
O imperfeito. Queria. O imperfeito.
Amor.


in, Dá-me o prazer de entrar e sair nas pontas dos pés.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

O Famoso Caderno. Só.

Como se fossem tuas as palavras
e eu as lesse no fumo das tuas mãos.

Como se estivessem pousadas
nos teus lábios,
para se soltarem livres depois.

Névoa que descesse sobre o mar,
barco e cisne,
escarpas douradas do meu sentir.

Uma vez, esse fulgor acendeu
a minha noite e eu segui,
deslumbrado,
o sentido do teu olhar.

Vi-te então abrir os braços
e flutuar sobre as ondas
revoltas doutro olhar.

Em esfinge e pedra,
um só grito surdo ecoou.

E em mim secaram essas palavras,
abismos de sal em que me deixaste ficar.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

O Famoso Caderno. Para Céline.

Escreviam execravelmente...e dormiam com as artistas...
os gondoleiros de bairro... prosaicos lusos...
sacanagem gratuita... de tão óbvia...
nada que eu não soubesse já...

Amavam em espanhol... Hella...
mnhm... mhnm...
sacudindo os braços...

Bebiam vinho...e faziam teatro...
como quem quebrasse vidros...
devagarinho...
os brojessos...

Os felizardos... tristes
felizardos...

( Para
Louis- Ferdinand Céline. )


Gabriel von Max. Clairvoyant-Veritas. c. 1895.

Foto: Gabriel von Max.
Clairvoyant-Veritas. c. 1895.