sábado, 23 de abril de 2011

Não Ser, de D. H. Lawrence.

As estrelas que se fecham e abrem
Caem na superfície do meu peito
Como estrelas num charco.

O vento suave a soprar fresco
Lança pequenas cristas uma a uma
De ondas sobre o meu peito.

E as ervas escuras sob os meus pés
Parecem flutuar em mim
Como ervas num riacho.

Oh ! como é bom
Ser essas coisas todas
Já não ser eu.

É que, vê bem,
De mim sinto o cansaço.


D.H.Lawrence, Gencianas Bávaras E Outros Poemas, Versão de João Almeida Flor, Regra do Jogo, Lisboa, 1983, p.37.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Relatos. papéis recuperados.VIII. De António Tavares Manaças.

VIII

Venham os construídos constrangidos
lúcidos só pelo lado de fora
das palavras que aprenderam a usar
como se houvesse ideias ou
comportamentos nisso. Venham.
Aqui se lhes oferece uma importância necessária
como a recuperação de qualquer coisa. Recupera-se aqui
este momento carregado de dias futuros. E
isso é também o vosso peso.
Venham.


estar ou a cabeça na barriga, António Tavares Manaças, Forja, dezembro de 1981, p.41.

( dedicatória: " É pró Zé-
Um abraço muito
grande
do António.
14/ Maio/ 83 )

terça-feira, 19 de abril de 2011

Rápido, de Carl Sandburg.

Viajo de rápido, num dos melhores comboios do país.
Lançadas através da pradaria, na névoa azul, no ar
escuro,
correm quinze carruagens com mil viajantes.
Todas estas carruagens serão, um dia, montes de
ferrugem;
homens e mulheres que riem
no vagão-restaurante, nas carruagens-camas, hão-de
acabar em pó.
No salão dos fumadores pergunto a um homem qual
o seu destino.
" Omaha ", responde.


Carl Sandburg, Antologia Poética, Tempo de Poesia, número 4, série de poesia a cargo de Alexandre O´Neill, Lisboa, s/ data, p.38.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Agadir.

Estas palmeiras de Agadir
ao pôr-do-sol, o disco rosa
avermelhando a areia, os palmitos
absurdos, os telhados em leque...

Os bazares de Agadir e os homens,
atarefando-se irrequietos,
de djelaba e babuchas berberes...

Os sonhos em Agadir, o sangue,
a diluição dos corpos, o silêncio
inquietante da noite, da noite quente,
da noite onduleante, num abandono
de palmeiras esquecidas lá fora...

Oh, Agadir, Agadir...

sexta-feira, 8 de abril de 2011

terça-feira, 5 de abril de 2011

Light And Lonely.

Onde estão as palavras
que tornam fácil a poesia,
as gaivotas e as nuvens brancas,
num céu azul. Onde?

As crianças que riem
e correm, pelos jardins?

O regresso dos emigrantes
e a bondade de quem os espera?

Onde estão esses versos que
cantam os poetas populares?

E as raparigas que os escutam,
de mãos postas? Onde estão?

Se eu só encontro o silêncio
e a solidão, onde estão agora
as palavras que tornam fácil
a poesia e a vida mais bela?

Onde?

Jean FERRAT chante ARAGON aimer à perdre la raison