sábado, 27 de março de 2010

Balada da Despedida.

Sonhos que foram só meus,
amanhã viverei.

Cidade que foi só minha,
a todos compreendi
e a todos aceitei.

Amei cada minuto
da minha vida
e vi os meus dias
multiplicados por mil.

Hoje não brinco
com futilidades colegiais.

Perdidas no tempo,
não passam de pirosas,
são apenas banais.

Promessas só minhas,
de nenhuma descansarei.

Hoje não quero
amizades ocasionais.

Amanhã vou partir
para encher a vida
de futuro
e viver também
com tudo o que passei.

Amizades assim
eu não quero mais.

São só passado,
são só pirosas,
são só banais.

Amanhã começarei
a viver o futuro.

E o quê mais?

" Lá Longe, Ao Cair da Tarde, Vejo Nuvens D`oiro... "

Choro as lágrimas
de Coimbra
e misturo as lágrimas
com saliva.

Tenho mil lembranças
guardadas no coração,
que chora nas cordas
duma guitarra.

E misturo
essas lágrimas quentes
com saliva.

Choro a guitarra
na madrugada alta ao luar
e misturo, a soluçar,
essas lágrimas doidas
com saliva
e muco.

" Fosse o meu destino o teu, oh mar alto, sem ter fundo... " ( Zeca Afonso )

Moldei com nobreza
o meu carácter.

Sempre precisei.

Para observar as estrelas
no céu, à noite.

Ou sentir a brisa fresca
nas falésias, sobre o mar.

Coisas simples.

Para a poesia,
também.

Respirar o aroma vivo
dos jardins, na Primavera.

E saber-me viver.

domingo, 21 de março de 2010

A Árvore.

Uma só árvore
de Francis Ponge
faz o dia
parecer
mais leve.

Uma só árvore
verde,
no castanho
dos campos.

Faz o dia
mais cheio.

Mais pleno.

Significante.

Poesia.

As palavras
assim dispostas
fazem poesia.

As palavras ouvidas
algures.

As palavras
que traduzem
o âmago
das pessoas.

Tu, só tu...,
é meio verso
em Camões.

Pedacinhos de ossos...,
de Pessanha.

A Liberdade Livre,
de Ramos Rosa.

As palavras que se ouvem
na cacofonia
das vozes.

O seu sentido
lúcido.

Só.
O Livro.
Desassossego.

sábado, 13 de março de 2010

As Tulipas.

As tulipas
em jarros
de vidro,
ao Sol.

As vermelhas
vão bem
num jarro azul.

As tulipas amarelas,
no jarro verde.

E as brancas,
dispostas no preto.

Agora, sem se saber como,
estão as tulipas tombadas
no meio do chão.

Sábado.

Abriu o Sol
hoje de manhã.

O gato correu
a espreguiçar-se.

Tomo um café,
negro,
fumegante.

Fumo o primeiro
cigarro,
o cigarro
do café.

Quase não há
movimento
lá fora.

Apenas os velhinhos,
de sacos de plástico
na mão, se encaminham
para o mercado.

Tudo o mais parece estar
muito longe,
um ponto distante
na cornocópia
do Tempo.

É Sábado de manhã
e a luz do Sol
parece envolta em silêncio.

quinta-feira, 4 de março de 2010

" Até ao Fim do Mundo. " ( Para ti. )

Até ao fim do Mundo.
E tu, inocente,
de nada sabes.

A força de um temporal,
hoje.
A eternidade,
depois.

A plenitude anónima
de tantas pessoas,
de tantas gentes.

Desde sempre
e por todo o lado.

Casos de vida
tão idênticos,
por vezes.

" Até ao fim do Mundo ",
meu amor verdadeiro,
prolonga o mistério
num mistério
maior.