sexta-feira, 13 de agosto de 2010

António Nobre...

" Dada a aproximação da Primavera, quase sempre agreste à beira-mar, é necessário que o doente saia da Foz. Animado com a perspectiva de dar realização aos seus planos literários, parte para o Seixo nos primeiros dias de Março.
"" Chegado ao Seixo, a despeito da fadiga da viagem, sentiu-se bem impressionado "" - continua a comovida narração de Augusto Nobre - "" tanto mais que sabia que lhe não faltariam, como sempre, as visitas do Dr. Aníbal Lourenço, seu primo, médico em Cete, amigo dedicadíssimo e espírito sempre interessado em assuntos literários. Mas a doença progredia, como sempre, e era já impossível levar a cabo o acalentado plano duma redacção definitiva dos versos a publicar. A fadiga era enorme, a febre subia impiedosamente, e a falta de apetite auxiliava a horrível tarefa do seu enfraquecimento.""
Pouco depois - em 16 de Março, dois dias antes do fim - o derradeiro apelo. Um pedido angustiante de socorro, as últimas linhas traçadas pela sua mão: "" Continuo mal e não posso mais estar aqui. Os ares são fortes de mais. Morro se continuo. ""
Não continuou... mas era entretanto chegado o momento - aquele desde sempre escrito no livro do destino -em que acabaria de vez toda a canseira de uma vida predestinada para a dor. Mas dor - e ele sabia-o - que gera a glória e a imortalidade.
Um destino idêntico ao do Luís...
Aquele último grito da carta do poeta, mais apelo da morte que sinal de vida, é logo ouvido por Augusto Nobre que de Lisboa, onde se encontrava, corre directamente ao Seixo para no dia seguinte acompanhar o irmão nos seus últimos passos na terra.
Chegam à Foz ( "" Que lindo que isto é! "" ), quando a tarde começa a declinar.
Na manhã seguinte - era o dia 18 de Março de 1900 - o poeta apenas espera, para se extinguir na paz e na resignação, aqueles braços fraternos que o hão-de amparar no último alento.
"" Sentando-me junto da cama, disse-me, passados momentos que se sentia muito mal e que ia morrer. E sem que lhe notasse qualquer sintoma de agonia, ele, que estava sentado na cama recostado em almofadas, inclinou-se para mim, abraçou-me e assim ficou. ""

Guilherme de Castilho, António Nobre: a obra e o homem, Arcádia, 2ª edição, Setembro de 1977, pp.97 e 98.

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