quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Raul Brandão, op. cit., pp. 328, 329

Atravesso Portimão de olhos postos no castelo de Arade, onde o velho poeta sonha com o Fausto, e talvez como êle em recomeçar a vida. A luz é cada vez mais viva. Um homem com dois cabazes apregôa na rua: é um tipo sêco e tisnado de mouro, de camisola azul e perna nua. Passa uma carrinha guizalhando, e logo atrás outro burro com bilhas de água fresca. É extraordinário o que êste pobre jerico inocente e peludo, de olhos límpidos, trabalha no Algarve. É êle que leva a fruta ao mercado e tira a água das noras. Lavra as terras calcinadas, transporta pelas estradas sòlheirentas, adornado com cordões vermelhos, quási uma família a dorso.(...)
Detenho-me um instante na cenográfica praia da Rocha, extasiado nos dois grandes penedos destacados e num fio de areia doirada ao pé da água azul- tudo pintado por Manini agora mesmo. A um lado a ponta do Altar entra decidida pelas águas; do outro, o esfumado Lagos mal se entrevê muito ao longe. (...)

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