É por saber que vives agora num mar revolto, como o Mar Cantábrico, vencendo as vagas alterosas que se abatem sobre a tua frágil jangada, os olhos abertos para a tempestade que cai sobre o teu país e os braços movendo-se fortes para que consigas rasgar os dias sombrios, até poderes encontrar ventos suaves e a calmaria que rodeia ilhas de sonho em arquipélagos de paz,
é por saber que podes ainda sobreviver aos titãs e outros monstros marinhos, que habitam as grutas cinzentas dessas águas traiçoeiras que nenhuma ave sobrevoa e,
com o teu exemplo,
podes acalmar a vida turbulenta de quem, na distância, tem os olhos postos em ti, algures nesta terra amaldiçoada que tanto amas,
é por saber ser eminente o naufrágio da balsa leve no rodopio da água,
que eu saio para a rua, entro no automóvel e atravesso a auto-estrada em grande velocidade, numa viagem de horas, sem rumo aparente.
Eu quero voar nas asas do teu nome.
Eu quero que o céu azul seja o teu rosto.
Eu quero que o meu país seja o teu sorriso mais bonito.
E tu a debateres-te, em fúria, contra a noite escura e a tormenta em que todos vivemos.
Acelero ainda mais e vou em linha recta,
eu quero mergulhar na humidade dos teus olhos, quero descobrir o paraíso nos teus olhos,
na pupila doce dos teus olhos.
Um dia,
eu sei que um dia te vou encontrar de novo por aqui.