sábado, 5 de maio de 2012

O Famoso Caderno. M. Teixeira Gomes sobre António Nobre. 5.

XX

Junho, 14.

O António Nobre atingiu o último grau do lirismo... insuportável. Por dá cá aquela palha pespega-me trechos do Só, que já parecem algo cediços. Mas o pior, ainda, são as passagens do poema que actualmente congemina, e deverá intitular-se O Regresso do Moço Anrique. O tom cavo, cheio de intenções sibilinas, com que ele diz: " O Regresso do Moço Anrique " ! E uns versos do poema, que repete a miúdo, com os olhos fixos no infinito, e um soluço abafado? Trata-se duma nau, que traz especiarias não sei donde:
e vinha à consignação
da firma comercial
Alves & Companhia...

Estava-me ele secando com " O Regresso do Moço Anrique " quando eu descubro, no Diário de Notícias, que chegava ao Tejo um navio de guerra turco ( ... ). Li a notícia ao Nobre. - " E - acrescento - se nós fossemos visitar a nau turca, enquanto não chega o moço Anrique? " Fomos. ( ... )
Somos muito bem recebidos; ( ... ) Despedimo-nos encantados; o Nobre quase ressuma alegria...

Id., Ibidem, pp. 201 e 202.

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