segunda-feira, 16 de abril de 2012

O Famoso Caderno. Vimeiro.

O teu vulto sobressai da neblina...

E olha que as arribas são abruptas
e depois, mesmo que o não queiramos,
contorna-as o entardecer rápido e hostil
e o desconforto da praia ao lusco-fusco.

Por estas terras marcharam os soldados
que vinham perturbar a folhagem densa,
agitada pelo vento morno e o chilrear
da passarada, que ainda hoje faz a alegria
das crianças, tu lembras-te das crianças?

Das crianças que brincavam junto ao mar?

Por estas colinas sobranceiras à praia,
quanta dor, quanta aflição, se viveram
nesses tempos conturbados, para estarmos nós hoje,
calmamente, a nadar no mar, a entrar e a sair do mar,
indiferentes a tudo, desconhecidos de todos.

Tu imaginaste um império ao sol-pôr,
embora o não dissesses logo, mas eu
o pressentisse, ou só o adivinhasse,
tu lembras-te de eu to dizer? Lembras-te?

Tu recordas-te que o nosso tempo
era um Mundo a regressar do futuro?

Recordas-te, meu impossível acordar,
minha única infância, minha amiga
de sempre? Recordas-te de eu te dizer
que eras alta, mais ainda que as colinas
sobranceiras ao mar? Tu recordas-te?

Sabes hoje que estiveste junto ao mar
naquele dia antigo, em que as tropas
marcharam e nos trouxeram a dor,
esta dor que sentimos por tudo o que somos,
sem sequer saber que o somos? Tu sabes?
Sabes, meu amor, meu amor de sempre?

Eu estou aqui ainda, tão perto de ti.

Sem comentários:

Enviar um comentário