sábado, 5 de fevereiro de 2011

Memória da Infância.

Aprendi a nostalgia sob o calor forte
de Luanda.

E a angústia.

Às sete horas da tarde de Domingo,
na véspera de um exame,
ficava de coração apertado e só,
na enorme nave central da Igreja
da Sagrada Família.

A felicidade, também, claro.

Céu azul, mar azul
e os banhos de mangueira
e alegria, na relva
do jardim.

Tive sempre cinquenta amigos.

E namorei, miúdo ainda,
a dançar Otis Redding,
encantado.

E Percis Sledge.

Ainda hoje não esqueço
Don´t Ever Change,
dos The Kinks...

E as acácias em flor.

Os cajús,
tão difíceis de comer.

As viagens para o Motel da Cela,
que começavam de madrugada
e em que só se parava trezentos quilómetros depois,
para tomar o primeiro café.

As Páginas Soltas na rádio à meia-noite,
que era uma senhora que lia poesia,
com uma voz lindíssima
e de quem já não sei o nome.

Os paraísos artificiais de depois
e em que fui tão precoce
e pioneiro.

Moldei aí o meu carácter
e ainda hoje me vejo isento
e recto, como quem prescruta
a linha do horizonte com um binóculo,
ou ouve os pássaros na floresta.

Por isso gosto
de olhar o mar.

De buscar Sintra
e encontrar a luz
e o aroma
da cidade onde nasci.

De sentir saudades
de mim.

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