Aprendi a nostalgia sob o calor forte
de Luanda.
E a angústia.
Às sete horas da tarde de Domingo,
na véspera de um exame,
ficava de coração apertado e só,
na enorme nave central da Igreja
da Sagrada Família.
A felicidade, também, claro.
Céu azul, mar azul
e os banhos de mangueira
e alegria, na relva
do jardim.
Tive sempre cinquenta amigos.
E namorei, miúdo ainda,
a dançar Otis Redding,
encantado.
E Percis Sledge.
Ainda hoje não esqueço
Don´t Ever Change,
dos The Kinks...
E as acácias em flor.
Os cajús,
tão difíceis de comer.
As viagens para o Motel da Cela,
que começavam de madrugada
e em que só se parava trezentos quilómetros depois,
para tomar o primeiro café.
As Páginas Soltas na rádio à meia-noite,
que era uma senhora que lia poesia,
com uma voz lindíssima
e de quem já não sei o nome.
Os paraísos artificiais de depois
e em que fui tão precoce
e pioneiro.
Moldei aí o meu carácter
e ainda hoje me vejo isento
e recto, como quem prescruta
a linha do horizonte com um binóculo,
ou ouve os pássaros na floresta.
Por isso gosto
de olhar o mar.
De buscar Sintra
e encontrar a luz
e o aroma
da cidade onde nasci.
De sentir saudades
de mim.
sábado, 5 de fevereiro de 2011
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