sexta-feira, 25 de junho de 2010

O Albatroz. ( Charles Baudelaire )

Por mera brincadeira, os homens de equipagem
Caçam enormes aves do mar, albatrozes
Que, indolentes, costumam seguir a viagem
Do navio percorrendo abismos tenebrosos.

Assim que sobre aquelas tábuas são largados
Os reis do céu azul, envergonhados, trôpegos,
Deixam cair, humildes, as imensas asas,
Que arrastam pelo chão, como remos já soltos.

Como está mole e frouxo o alado peregrino!
Ele, que tão belo foi, ei-lo cómico e feio!
Um espicaça-lhe o bico, usando o seu cachimbo,
E um outro, coxeando, imita o pobre enfermo!

O poeta é igual ao príncipe das nuvens
Que se ri do arqueiro e afronta a tempestade;
Exilado na terra e no meio de apupos,
As asas de gigante impendem-no de andar.

Baudelaire, As Flores do Mal, Tradução de Fernando Pinto do Amaral, Assírio e Alvim, Lisboa, 1992, p.55.

Leo Ferre, Les Poetes: Volume 2, 7. L`Albatros, 1967, Barclay.

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