quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Casimiro de Brito.

13 de Fevereiro
Sento-me, e o mar senta-se comigo, nesta esplanada de falso inverno. É bom conversar com quem nos entende, um velho amigo, diante de uma mesa vazia. Quase vazia- uma garrafa de vinho ( ou é alma? ) também é gente. Os papéis, que sempre me acompanham, nem os tirei da algibeira. Este tampo desamparado basta. Basta para dizer um coração sem descanso, sem descanso partindo-se, a perfeição dos barcos silenciosos, o sabor de uma língua que muito amo, o medo das máscaras e das lápides. Alfaias e afazeres ficaram por momentos esquecidos onde há pouco andei a correr de um lado para o outro. O mar parece compreender: sem velhice nem lágrimas ensina-me o pouco que espero dos dias e das noites, alguma serenidade.

( ... )


Casimiro de Brito, Na Barca do Coração, Campo das Letras, 1ª Edição, Porto, Novembro de 2001, pág.48.

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