domingo, 25 de dezembro de 2011

Consoada.

O alho picado e a salsa
perfumaram o prato raso
da Consoada e a luz forte
acesa sobre a mesa,
afastou a solidão da noite
para um longe indeterminado.

Estrita observância da tradição.

Baladas e estrelas e
a imitação do azevinho,
voluntários e sem-abrigo
que se dão as mãos
e na rua já não passa nenhum carro
há muito tempo.

Recuso prescindir da cerimónia,
mas dispenso olhar a nave
da catedral e as palavras
do cardeal. Para quê?

Está tudo bem lá fora,
não passam carros na rua
e as famílias recolhem-se
à mesa de jantar.

As crianças têm os olhos irrequietos
presos às pinturas do papel de embrulho.

Ah, as crianças...

Que bem apurada está esta pasta
de esparregado. E o vinho do Douro
tão denso no copo. Depois, os doces
de ovos e açúcar e o café aromático,
a aguardente velha e o cigarro.

Vão acender o madeiro nas aldeias.
Ah, as aldeias...
E o rosto avermelhado
de quem lá vive...

A rua está em silêncio ainda
e faz um frio de dezembro
na noite de breu.

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