sábado, 24 de dezembro de 2011

As Teorias Selvagens. Pola Oloixarac.

" Tira-me o copo da mão e pousa-o numa prateleira. Afaga o bigode, como se desfrutasse de uma pausa antes de me comer. Puxa-me pela cintura. Tento manter uma certa distância, mas em vão: está tudo impregnado da sua monstruosa irradiação. Fecho os olhos, mas não consigo deter a investida dos seus traços de monstro a esgueirarem-se entre auréolas azuis. O vapor rançoso, a combinação do perfume e do suor, o bigode absoluto, eco dos olhos mal-intencionados, a refastelarem-.se sob a minha roupa, esse nariz picado por insetos triásicos, narinas como buracos de rochas. Basta. Nada deve deter-me. Fujo, desfaço-me dos seus braços, desabo no sofá.
Sentada, sem cruzar as pernas, o calor começa a rastejar-me pelos joelhos acima, moldando-me o corpo, puxa-me, puxa-me a boca - para a deixar escancarada, virada para ele. Devo estar completamente vermelha. Tapo o rosto com o cabelo.
( ... ) "

Pola Oloixarac, As Teorias Selvagens, Quetzal, série américas, Tradução de Margarida Amado Acosta, Lisboa, 2011, p. 115.

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