terça-feira, 29 de setembro de 2009

Noites Brancas. ( Dostoiewski )

" Meu Deus! Um instante de completa felicidade não basta para uma vida inteira? " ( p.110 )

Esperei por ti
três longos dias,
sob um Sol intenso
e a fria Lua.

As nuvens e a chuva,
precipitavam-se e confundiam-se
na voragem infinita do Tempo,
e em mim crescia a angústia da tua ausência,
quando as tardes se acendiam
de saturação e vazio.

Os pilares de Hermes
nas encruzilhadas desertas
e tu, longe de tudo.

Os desertos, a falta de Vida.

Paisagens de De Chirico onde
se instalassem cadafalsos
e decapitassem fantasmas
aprisionados em revoluções
perdidas.

Esperei por ti, tanto tempo.

Ao quarto dia, reneguei
a Língua e o Livro
e já não sabia que fazer,
senão ficar ali, especado, à espera.

As folhas voavam no turbilhão de tempestades.
A luz e a sombra subtraíam a espiral das palavras,
até não haver mais luz.

Ao quinto, perdi a sombra,
o suor e o sangue,
sedentos da espera.

Acordei ao sexto dia
frente às auroras boreais
e os relâmpagos queimaram
as florestas,
a água secou de vez
e o Mundo desapareceu.

Acordei, não sei como,
no aquário da consciência.

Já não sabia de ti, do teu nome,
a tua figura,
nem de nada.

Ah, se eu próprio, nessa altura,
me recompusesse,
desta história esquecida,
esta palavra
apagada...

( Noites Brancas, Dostoiewski, Antologia dos Amigos do Livro, Inquérito, 2ªEdição, Lisboa, sem data. )

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