sábado, 17 de julho de 2010

Por Um Fio 2.

" Nós, poetas, só escrevemos disparates. "
Manuel de Freitas.

O Tempo que eu perdi...
Resíduos de secura,
a alucinação da Morte.

Mas não posso voltar atrás,
mesmo sabendo que é no passado
que a Vida está.

Uma gaveta tua por abrir,
as molduras que murcharam
como as pétalas
num jarro esquecido...

Todo este Mundo que ainda é teu
a encher-se de pó.

Algures, numa floresta densa,
ouvem-se os gritos dum veado
que agoniza.

Só esse sacrifício
me redime da dor.

Depois,
cai o silêncio
e a escuridão da noite.

Exausto e imóvel,
deixo de pensar.

Mas não consigo dormir.


Manuel de Freitas, Jukebox 1 & 2, Teatro de Vila Real, Vila Real, Outubro de 2009, p.37.

domingo, 11 de julho de 2010

Por Um Fio.

Eu troquei a vida
por ti
e olha que não é
nada pouco,
a vanguarda toda
e as mesas coloridas
de fórmica,
em que o açúcar
fervilha,
por ti

e pela maior
das doenças,
a mais bela,
a mais sóbria
e bela,

troquei a vida
pela verdadeira solidão,
que é amar-te,
tão só.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Didi Balú Dininho.

Noite cerrada, a porta também,
os dedos queimados dos cigarros de vintém,
as salas fechadas, as luzes apagadas,
o mar desfazendo a espuma nos areais.

Oh, meu gatinho lindo, meu Didi Balú Dininho, amigo,
de volta de mim todo o tempo, sem nada compreender,
vamos agora dormir, o quarto está fresco, fresco e escuro
e lá longe, nem sabes onde, só o mar bate devagarinho.

Vem de mansinho, meu gatinho amigo,
vem dormir, não tenhas medo,
é o mar lá longe, de encontro ao molhe,
e é o mesmo mar a desfazer-se, cego,
nos areais.